quarta-feira, 6 de agosto de 2008

FOTOGRAFIA: CABEÇA, OLHAR E CORAÇÃO

A Fotografia antes de tudo é uma linguagem; um sistema de códigos verbais ou visuais; um instrumento de comunicação. A primeira função de toda a linguagem é "significar", a segunda é "afirmar o eu" e a terceira é"comunicar".

Seus recursos na reprodução de imagens são capazes de criar efeitos ou situações que não são percebidos na cena real. Seu poder de impacto permite maior aproximação da obra e do seu espectador. A subjetividade que lhe é própria pode mentir, provocar, chocar, evocar sensações de movimento, odor, som. Proporciona prazer estético, e, também, manipular a opinião pública em favor dos interesses do fotógrafo ou de seus clientes.

O próprio fotógrafo exercita um trabalho intelectual. Raciocina, sente e produz por meio de seu intelecto criativo, padrão cultural, técnica e experiência de vida. A boa fotografia é resultado de árduo projeto e não um mero "acidente fotográfico".
Ou, como afirma Henri Cartier-Bresson, "fotografar é reconhecer, ao mesmo tempo e numa fração de segundo, um evento e a organização rigorosa das formas percebidas visualmente e que expressam esse evento. É reunir, no mesmo ponto de vista, a cabeça, o olhar e o coração".
A Fotografia é um dos inúmeros modos de divulgar cultura e produzir conhecimento. A obra do fotógrafo não necessita de discursos e, menos ainda, das justificativas de seu autor. Ela antes de tudo, informa, fala por si mesma... Ela é auto-suficiente... É coesa, objetiva, bem lapidada... Esteticamente perfeita... Dispensa, aliás, tais adjetivos ou outras atribuições. Arte e Fotografia andam juntas. Estão em plena cumplicidade.
Por mais que se queira apreender a realidade em toda a sua amplitude, qualquer tentativa técnica é parcial, mesmo porque cada um de nós a concebe e interpreta de modos distintos.E tudo aquilo que não é real ou análogo, passa a estar a serviço das mitologias contemporâneas.
Ler uma Fotografia implica reconstituir no tempo seu assunto, derivá-lo no passado e conjugá-lo a um futuro virtual. Assim, a linguagem fotográfica é essencialmente metafórica: atribui novas formas, novas cores e novos sentidos conotativos ou denotativos; comprova que a Fotografia não está limitada apenas ao seu referente. Ela o ultrapassa na medida em que o seu tempo presente é reconstituido, que o seu passado não pode deixar de ser considerado, e que o seu futuro também estará em jogo. Ou seja, a sobrevivência de sua imagem está intimamente ligada à genialidade criativa e ao potencial cultural e intelectual de seu autor.A mensagem fotográfica deve transpor sua condição documental, de verossimilhança e sempre transmitir algo mais forte, com maior impacto, que supere sua própria imagem.
A Fotografia, como toda arte contemporânea, pode ser e é uma ferramenta de percepção para transformar e abrir novos horizontes.


Prof. Enio Leite

4 comentários:

  1. Professora, esse artigo só fez aumentar ainda mais o meu gosto pela arte de fotografar, concordo quando ele diz que a fotografia é auto-suficiente, ela não precisa de interpretante afinal extraimos dela o que sentimos, e se olharmos e momento diferente sentiremos coisas diferentes... Isso é o que masi me prende a fotografia... salvei esse texto.

    ResponderExcluir
  2. Ótimo Janine. Era isso que queria despertar em vocês com o execício da visão Punctum. Mas acho que esse texto teve um melhor resultado, rs....

    ResponderExcluir
  3. É professora, esse texto passou muito bem a idéia de Punctum.
    Concordo com tudo que o autor cita ali e me provoca a gostar mais e tentar mais maneiras de fotografia. Eu sei que ainda tô longe de muitas fotos incríveis que vemos por aí, mas eu gosto muito de fotografia, pra mim é uma terapia...hehehehe

    ResponderExcluir
  4. Lidi,

    "Vambóra" fotografar, então! ;)

    ResponderExcluir